Extraordinária vitória! Os deputados do PSD, do Ch, do CDS e da IL mostraram quem manda neste país e proibiram o uso da Burqa na nossa terra. Só falta que, com igual sensatez legislativa, imponham multas aos extraterrestres que se atrevam a vir comer nos nossos restaurantes e que impeçam as girafas de utilizarem os transportes públicos.
segunda-feira, 20 de outubro de 2025
quarta-feira, 15 de outubro de 2025
Macacos no nariz, uma ontologia
Sim, Sr. Hulot/Trafic, de Jacques Tati (1971), explora a dialética (as contradições) entre o velho mundo artesanal, do improviso, diletante, e a lógica massificada do capitalismo industrial: uma pequena empresa, de garagem, tenta fazer chegar ao sumptuoso e asséptico salão automóvel de Amesterdão um revolucionário protótipo de uma 4L destinada ao campismo, entre camiões-tir, auto-estradas frenéticas e voos de naves espaciais transmitidos em directo. Nesse momento de transição entre o mundo antigo e o novo, o ser humano, então como agora, persiste (inalterável) na sua essência. Demonstra-o a sequência da fila de trânsito na Bélgica, na qual os condutores se dedicam a tirar macacos do nariz. Hoje, 54 anos depois, em plena ascensão da inteligência artificial e no momento culminante em que se assiste à massificação do Chat GPT, basta passar alguns minutos numa bicha para, olhando para o carro ao lado, constatar que o Homem permanece igual na sua essência: somos animais básicos, e um pouco ordinários, que se entretêm a catar catotas.
sexta-feira, 10 de outubro de 2025
A cambalhota à moda do Porto
Ah!, o maravilhoso mundo novo do turismo de massas! Como se não fosse já suficiente o advento do ramen e o avanço civilizacional do tuk-tuk, acabo de ler num cartaz que "já abriu", na Rua do Breyner, o Museum of Sex. Desejando vê-lo dedicado às especialidades locais, ou pelo menos capaz de impulsionar a original imoralidade tripeira, espero muito sinceramente que adestrem a horda forasteira na prática da famosa cambalhota à moda do Porto, do coito à minhota e da cópula à Gomes de Sá. Mas o mínimo que se exige é que ensinem todos os preceitos para fazer uma francesinha sem ter de aprender o utilíssimo idioma do marquês Donatien Alphonse François de Sade.
quinta-feira, 9 de outubro de 2025
Calisto Elói
Seria necessário, creio eu, ter mais vezes presente o caso parlamentar de Calisto Elói, o anjo de Camilo. Exceptuando-se o abismo retórico que separa as duas épocas - aquela mais próxima do estilo garrafal, esta tão ordinária que quase não se acredita que tal seja possível -, a câmara de outrora é a cara chapada da assembleia de agora.
quarta-feira, 8 de outubro de 2025
Muitos parabéns, Paulinha
Foi-me concedido, nem sei bem porquê, o privilégio da amizade da Ana Paula Tavares e a possibilidade de ter sido seu parceiro de crime em dois projetos vagamente literários (ambos sob a batuta do Paulinho Assunção, já agora), Os Olhos do Homem que Chorava no Rio e Verbetes para um dicionário afetivo. Poderão, pois, imaginar o quanto estou feliz por lhe terem atribuído este ano o Prémio Camões. Quando avança potente e seguro, o rio encontra sempre a sua foz.
terça-feira, 7 de outubro de 2025
Por favor, não incomodem os fascisraelitas
Roga-se a todos os eventuais organizadores de flotilhas de ajuda humanitária, as quais incluam, nomeadamente, médicos, enfermeiros e portadores de bens alimentares essenciais, bem como àqueles que pretendam propor soluções justas e equilibradas para a convivência entre povos milenarmente antagonizados, que não incomodem, por favor, as corajosas tropas das IDF. O estado fascisrealita está a levar a cabo uma carnificina (ou preferem genocídio, mortandade, limpeza étnica?) contra civis desarmados e necessita de alguma tranquilidade para concluir essa tão urgente tarefa.
Coisa morta
O mundo está cheio de elogios às coisas da natureza, muitos dos quais recorrendo a adjectivos francamente exagerados (fecunda, verdejante, bucólica, luxuriante, idílica....). Mas há um silêncio de chumbo a propósito do gingko, do qual apenas habitualmente se diz que é considerado um "fóssil vivo", por existir "há mais de 200 milhões de anos", sendo uma árvore contemporânea dos dinossauros. Mas ninguém fala dos frutinhos amarelos que amadurecem nesta altura do ano e, caindo dos ramos, ficam a apodrecer nos passeios da Rua de Santa Teresa (é só um exemplo), empestando o ar com o seu miasma podre de coisa morta.
sexta-feira, 3 de outubro de 2025
Faúlha pouca
«Faúlha pouca - escreveu Dante n'A Divina Comédia - em grande chama abonda». A progressão geométrica implícita na frase há-de ser muito semelhante à do processo pelo qual, a partir de um cisco de esterco e ódio, se encheu o Parlamento de uma chusma de gente difícil de descrever sem recurso à linguagem mais rude.
terça-feira, 30 de setembro de 2025
Retórica política
Chamada a um tribunal a propósito da divulgação pública, com objectivos xenófobos, de uma lista de nomes (alegadamente não portugueses) de crianças inscritas numa escola em Portugal, a principal influencer juvenil do partido neo-fascista disse ontem que não está arrependida e justificou-se explicando que o acto ignóbil constituiu «um exercício de retórica política». A manobra mediática de Matias serve, com efeito, para justificar tudo e mais alguma coisa. Também devia ser óbvio que aquele partido repleto de criminosos da mais baixa extração não vai limpar coisa alguma e muito menos um país inteiro. Só não sou ainda capaz de determinar em que género de retórica política se inscreve a atividade (pelo menos) fotográfica de Luís Portilheiro, o candidato do Chega à União de Freguesias da Sé e São Lourenço, em Portalegre.
segunda-feira, 29 de setembro de 2025
Uma campanha alegre
Creio que todos os candidatos à Câmara do Porto, incluindo aqueles que nunca tinham tido uma ideia sobre a cidade, já expressaram opiniões bastante contundentes relativamente ao projecto do metrobus da Avenida da Boavista. Este, para além de não ter ainda começado a operar, custará um cagagésimo do orçamento final da Linha Rosa, que só servirá duas novas estações e traz a Baixa em pantanas há quase cinco anos (para além de ter, na prática, inviabilizado uma nova e estratégica ligação a Matosinhos, servindo dois polos universitários, a zona da Pasteleira e a parte mais ocidental da cidade). Curiosamente, ou talvez não, ninguém escuta uma palavra sobre a Linha Rosa do Metro aos senhores candidatos.
sexta-feira, 26 de setembro de 2025
Olha para o que eu digo, não vejas em quem eu voto
A propósito dos negócios da empresa de que é proprietário o presidente da Câmara de Paredes (Alexandre Almeida, PS), a dirigente concelhia do PSD, Mariana Machado, disse à SIC que «quem governa uma câmara municipal nunca pode estar embrenhado por um véu de suspeição (sic)» e exige a demissão imediata do autarca. Trata-se, parece-me, de uma opinião bastante razoável. Falta saber se Mariana Machado sabe quem é o líder do seu partido e se também acha que um primeiro-ministro «nunca pode estar embrenhado por um véu de suspeição» (seja lá o que isto queira dizer em Português decente).
quinta-feira, 25 de setembro de 2025
Negócio da China
O governo apresentou hoje uma proposta segundo a qual beneficiarão de redução fiscal os senhorios que aluguem habitações até 2.300 euros por mês ou proprietários que vendam casas por preços até 648 mil euros. Considera o governo que aqueles são valores "moderados". E provavelmente já não espanta - nem causa indignação - que o PSD e o CDS defendam tais coisas, uma vez que os portugueses já demonstraram que apreciam ser aldrabados, manipulados e escarnecidos, recompensando até nas urnas aqueles que os estupidificam.
Resta agora esperar para ver qual será o único efeito prático das medidas agora anunciadas. O mais provável, conhecendo o "mercado" e vendo como funciona, é que um apartamento cuja renda esteja, suponhamos, nos 1.800 euros (que também não é um valor moderado) passe a custar 2.250 euros por mês, beneficiando, ainda assim, do desconto fiscal. O mesmo nas compras e vendas. Os inquilinos e os compradores acabarão por pagar a diferença do seu bolso e também o benefício fiscal, que sairá do erário público que mantêm com os impostos que pagam.
Não admira, pois, que cada vez mais políticos tenham interesses no sector imobiliário. Ganham dinheiro de braços cruzados e até podem decidir que lucro têm.
quarta-feira, 24 de setembro de 2025
O grande pacificador
Estava para fazer um post perplexo a propósito das sete guerras que o celerado da Casa Branca diz ter resolvido. Mas o El País antecipou-se e esclareceu-me. São, conforme se pode constatar, conflitos militares da maior importância. Creio até que, em seu desfavor, Trump se esqueceu de mencionar uma muito desagradável querela a que acabo de assistir enquanto atravessava uma passadeira para peões: um tipo buzinou a uma moça que desrespeitou uma regra de trânsito qualquer, mas, inspirado pelo exemplo pacifista do presidente norte-americano, seguiu viagem sem provocar uma carnificina na Praça dos Leões.
terça-feira, 23 de setembro de 2025
A Europa entre o fogo e a frigideira
Os mais recentes desenvolvimentos na cena política internacional demonstram que, se não fosse liderada por um louco autocrático e fascista, a Rússia poderia ser hoje um parceiro privilegiado da Europa ocidental (cuja morte foi hoje anunciada por Trump). Com Putin no Kremlin, porém, os europeus estão condenados a marinar entre o fogo e a frigideira, à mercê dos mitómanos manipuladores fascistas que nos calharam em sorte. No ponto em que estamos, só uma catástrofe de proporções planetárias nos poderá devolver ao caminho da civilização, do humanismo e da decência. E nem sequer estou a ser pessimista.
segunda-feira, 22 de setembro de 2025
«És tu que me vais mandar prender, Andrézito?»
Não me parece impossível que os indivíduos recentemente assassinados a bordo de embarcações bombardeadas pelos EUA nas Caraíbas fossem, de facto, traficantes de droga (nem é improvável que o governo venezuelano seja convivente com o dito tráfico). O busílis está em que um Estado de Direito decente não sentencia criminosos à morte sem um julgamento prévio e justo. Já quase ninguém se lembra disto, uma vez que o discurso dominante procura, há muito tempo, fazer tábua rasa da lei e da ordem, mas, sem o respaldo da Justiça, o que o governo norte-americano está a fazer é apenas um homicídio em série. Um crime, portanto. E, por este crime, espero que os responsáveis possam ser julgados e condenados - não, como as suas vítimas, a serem assassinados com um míssil na testa, mas a uma pena razoável e própria de uma comunidade civilizada.
É quase bizarro, por isso, que tenha de ser o presidente da Câmara de Oeiras a recordar, a propósito de uma zanga de comadres, que o Estado de Direito implica a separação de poderes e que esta é um pilar fundamental da vida civilizada em comunidade.
sábado, 20 de setembro de 2025
Geoestratégia pós-moderna
Trump continua muitíssimo empenhado em reactivar a rede social TikTok nos EUA. Mas porquê tanto empenho relativamente a uma ferramenta informática que, no essencial, serve para difundir dancinhas idiotas, para narcotizar os utilizadores e para disseminar mentiras? Caso houvesse dúvidas, o próprio Trump já explicou publicamente que o TikTok o ajudou a ganhar as eleições. Posto isto, a China há-de ser a principal interessada em que o TikTok volte a funcionar nos EUA, seja de que forma for. É muito mais fácil derrubar um império idiotizado do que uma nação de cidadãos livres.
sexta-feira, 19 de setembro de 2025
Adivinha pós-moderna
A agressão russa à Ucrânia levou a União Europeia a apresentar hoje o 19º pacote de sanções à Rússia. Agora adivinhem quantos pacotes de sanções a União Europeia apresentou e aprovou, nestes quase dois anos, a fim de penalizar Israel pelo genocídio em Gaza.
Era uma vez no país que outrora reivindicava ser a "land of the free"
Sem o pretexto ideológico do combate ao comunismo, a sanha persecutória do governo norte-americano contra meios de comunicação social e comunicadores como Jimmy Kimmel e Stephen Colbert não passa de um regresso ao mccartismo, apenas ainda mais torpe, tendo por alvo, já não supostos agentes subversivos suspeitos de simpatizar com Moscovo, mas sim, e agora às claras, todo e qualquer cidadão ou instituição que ouse pensar e falar livremente.
segunda-feira, 15 de setembro de 2025
Infiltrados
É bastante razoável que os europeus se inquietem com a possibilidade de acabarem governados por Putin ou por alguém da sua pandilha. O paradoxo está em que, não há-de tardar muito, acabaremos governados pelos abascais, pelos venturas, pelas le pen, pelos farage, pela weidel e pelos orban, e não seremos já capazes de descortinar que diferença haverá entre o regime russo e os regimes que teremos no resto da Europa.
domingo, 14 de setembro de 2025
Uma explicação
"A estupidez nos homens tem o mesmo comportamento do que a peste, é contagiosa, propaga-se e infecta um de cada vez, aos poucos, aumentando o rebanho, alargando a manada, dilatando a vara. (...) os estúpidos esquecem-se de que são estúpidos, de outra forma não cometeriam tantos actos estúpidos".
In A Vida Airada de Dom Perdigote, de Paulo Moreiras.
quinta-feira, 11 de setembro de 2025
Flor dos espadachins
Que regalo, entretanto, a leitura do Dom Perdigote do Paulo Moreiras. Culto, divertido, envolvente e com mais léxico numa só página do que em volumes inteiros desses papelinhos que por aí agora se vendem às resmas. Não deve ser trendy. Mas, como diria o outro, eu quero é que as trends se forniquem umas às outras.
quarta-feira, 3 de setembro de 2025
«E não continuem a foder-me com papelinhos»
Para além de Traições, adquiri ao meu vizinho antiquário um exemplar de um livro cuja existência desconhecia: O Veneno da Madrugada, de Gabriel García Márquez. Trata-se, com efeito, da primeira edição portuguesa, da Europa-América, de La Mala Hora, romance que Gabo publicou em 1962, cinco anos antes do sucesso estrondoso que foi Cem Anos de Solidão.
Nessa primeira edição portuguesa, Francisco Lyon de Castro seguiu não só a versão brasileira do título de La Mala Hora, mas também uma boa parte da tradução para Português do Brasil, apenas ligeiramente aportuguesado. O título original do romance, creio, só voltaria a ser recuperado em 1993, quando a Quetzal o republicou com tradução de Egito Gonçalves e Horas Más escrito a letras vermelhas sobre a original capa de Rogério Petinga.
O que me tinha escapado é que a mais recente edição portuguesa do La Mala Hora, da D. Quixote (2018), acabou por misturar os títulos de todas as versões anteriores, incluindo a castelhana, passando o livro a chamar-se A Hora Má: O Veneno da Madrugada.
Tudo isto para dizer que a descoberta da edição da Europa-América acabou por ser um belo pretexto para regressar a um livro poderoso - a «um caso extremamente simples de romance policial», conforme lhe chama o juiz Arcadio - e a um autor de que já tinha saudades. Lendo-o, dá vontade de usar a expressão do alcaide que dá título a este texto; e de passar muito mais tempo a ler o grande Gabo.
terça-feira, 26 de agosto de 2025
Photomaton pornográfico
Seis da tarde. Na minha rua, uma mãe e a sua filha pequena passeiam um pónei branco pela trela — como se fosse um cachorro. As desigualdades, iniquidades e injustiças do capitalismo, das quais os três maiores partidos nunca falam (pois preferem que os pobres se odeiem uns aos outros), transformaram-se há muito em matéria da mais suja pornografia.
segunda-feira, 25 de agosto de 2025
Os judeus ao espelho
Traições, que há dias comprei ao meu vizinho antiquário da Rua do Mestre Jorge, não é, nem de longe nem de perto, um dos melhores livros de Philip Roth. Para simplificá-lo de algum modo, parece composto por sobras de outros livros do autor norte-americano: fragmentos de diálogos, dissertações, capítulos recusados... Mas o final metaliterário esclarece (quase) tudo.
Num daqueles diálogos, um judeu (como Roth) diz o seguinte: «Porque é que toda a gente aqui detesta tanto Israel? Podes explicar-me? Agora tenho uma discussão de cada vez que saio. E volto para casa numa fúria e não consigo dormir toda a noite. Sou um aliado, de uma maneira ou doutra, das duas maiores escórias mundiais: Israel e América. Concedamos que Israel é um país terrível...».
O livro, refira-se, foi publicado em 1990. Hoje seria bastante mais fácil de compreender: detestamos os judeus, os russos, os americanos, os otomanos ou os alemães de cada vez que os respectivos líderes parecem transformar um povo inteiro num agressor sádico do próprio conceito de humanidade.
quarta-feira, 20 de agosto de 2025
As férias como uma certa forma de infância
Ao fim da tarde, o nosso novo vizinho abranda a carrinha ao pé da esplanada e, pela janela da viatura, oferece-nos uma garrafa de ginjinha. Depois, pela primeira vez desde que chegámos, o tempo arrefece de forma acentuada e exige-me que vá ao carro buscar o agasalho até agora inútil, o que parece uma antecipação triste do regresso à cidade grande, ao metro cheio, provavelmente à chuva. Disfarço, mas sinto a mesma vontade de chorar de outrora, quando era gaiato e, de manhã cedo, o táxi nos levava de regresso à estação dos comboios.
quinta-feira, 14 de agosto de 2025
Depois, subitamente
Jantámos no terraço, para conversar e ver passar as luzes dos aviões entre o coriscar das estrelas. De um lado, a torre iluminada do castelo; do outro, o fulgor da Lua ascendendo sobre a vila de casas caiadas. Perto da meia-noite, uma perseida azul celeste riscou o céu. Não formulei nenhum desejo.
Claro que também falámos de Gaza, da Ucrânia, da cegueira anti-migração, do clamor dos fogos florestais e de outras tragédias. Mas toda a desgraça parece longínqua nestas ameníssimas noites de Agosto.
Depois, subitamente, as chamas chegam à nossa porta.
quinta-feira, 7 de agosto de 2025
Belas sestas
Mesmo nos dias mais quentes, que têm sido quase todos, corre pelo Jardim Grande uma brisa suave que agita a folhagem das tílias e dos plátanos e refresca o ar sombreado. Ali escolho um banco, me deito nas tábuas como um sem-abrigo, observo a dança lenta do arvoredo e durmo belas sestas pela tarde fora.
sexta-feira, 1 de agosto de 2025
A cabeça decapitada de um homem qualquer
Acompanhei — de forma bastante diletante, é certo — o rocambolesco caso do indivíduo que foi detido depois de se dirigir a um hospital de Lisboa para entregar uma cabeça humana que havia alegadamente decapitado "por razões de índole pessoal". Procuro imaginar a cena e figuro-a semelhante à pintura Judith Mostra a Cabeça Decapitada de Holoferne ao Povo, de Pietro Benvenuti, embora, no caso alfacinha, se trate apenas da cabeça de um homem qualquer.
Segundo a mitologia judaica, Judith decapitou Holoferne depois de ter seduzido o general assírio que comandava a punição dos hebreus no ano de 650 antes de Cristo. Enquanto artimanha militar, o método parece bastante eficaz, ainda que um pouco extremista. Mas é possível que, caso o expediente fosse adoptado por uma palestiniana corajosa, Netanyahu e os seus falcões nem sequer apreciassem os favores das mais belas moças de Gaza.
segunda-feira, 28 de julho de 2025
Ressuscitar três vezes
Sábado à tarde, no metro entre a Trindade e a Casa da Música, duas t-shirts me prenderam a atenção. A primeira tinha escrito: Não venhas de garfo que o jantar é sopa. Logo a seguir, uma moça anafada trazia no dorso a frase A better me is coming. Pareceu-me o enunciado de um projecto bastante ambicioso, ao qual também eu poderia dedicar-me, por exemplo, durante as férias, mas cuja concretização implica que tenha, pelo menos, de ressuscitar mais três vezes.
quarta-feira, 23 de julho de 2025
Gaza: para quem ainda não tenha compreendido, talvez uma fotografia o torne mais óbvio
Notícias como esta tornam evidente que os centros de ajuda humanitária em Gaza são, na verdade, campos de extermínio onde se perpetua a limpeza étnica planeada por Israel e pelos seus parceiros de negócio. Aquele bando de esfomeados havia de ficar muito mal nos "reals" e nas "stories" partilhados a partir da futura Riviera do Médio Oriente. O que interessa que eles sejam seres humanos como nós?