Existem, em Portugal, 8,5 médicos por cada mil habitantes. Trata-se do segundo maior rácio da União Europeia, o que não impede que os hospitais públicos e os centros de saúde do Estado continuem a padecer de falta de "recursos humanos" e a não assegurar, em certos casos, os serviços de emergência básica. Não é alheia a este facto a existência de 131 hospitais privados, dos quais talvez 90% foram construídos nos últimos 30 anos (e cujo investimento tem de ser amortizado o mais rapidamente possível, canalizando recursos públicos para o chamado "sector empresarial e social"; os liberais abominam o Estado, excepto quando este serve para lhes encher os bolsos). Não deve espantar-nos, por isso, que o orçamento da Saúde em Portugal continue a crescer mais ou menos sem controlo, nem que ninguém questione o facto de os contribuintes estarem a pagar cursos de Medicina a estudantes que não agradecem nem retribuem o esforço da comunidade (e que correm para os braços do primeiro grande grupo económico que lhes pisque o olho). Quando, porém, se trata de apurar responsabilidades pelo estado a que chegamos, os principais partidos comportam-se como quando alguém dá um traque no elevador: ninguém foi.