Havia já entregue à editora o original do livro que se chamaria A Última Curva do Caminho, quando, em Agosto de 2021, foi publicado em Espanha Los Vencejos/O Regresso dos Andorinhões, do grande Fernando Aramburu. As coincidências entre as duas ficções - um homem decide morrer e prepara-se para isso - são quase tão óbvias quanto as enormes diferenças que os distinguem. Mas dificilmente se explicam, sem o auxílio de outras ciências, a confluência existencial (digamos assim) entre dois autores separados por quase tudo.
Agora que, demasiado tarde, li O Regresso dos Andorinhões, é inútil atormentar-me com estultas comparações deste com o meu modesto A Última Curva do Caminho, ou com a insensatez de tantos outros impulsos literários (mea culpa). Ocorre-me, ainda assim, que talvez me fosse aconselhável cuidar mais vezes de observar o exemplo do narrador d'A Divina Comédia antes de ceder à tentação de viajar ao outro lado da pobre realidade. Diz ele: «(...)poeta que me guias,/vê se é minha virtude tão potente/antes do alto passo a que me envias».