Recorro à memória sobressalente, à erudição de pacote, para confirmar que a expressão «pregar aos peixes» está de algum modo relacionada com o texto satírico que o Padre António Vieira dirigiu à incorrigível corrupção dos homens. Nesse sermão, dito de Santo António, se critica, entre outras falhas, o facto de os homens serem tão surdos como os peixes aos argumentos que lhes dirigimos, tirando partido de uma tradição segundo a qual o santo de Pádua ou de Lisboa teria o hábito de, em Rimini, pregar aos peixes pelo facto de as pessoas o não quererem escutar. «Pregar aos peixes» significa, pois, desperdiçar tempo e saliva, actividade muito semelhante, afinal, àquela que aqui se executa. Neste ano sem graça de 2025, a redacção destas breves notas é ainda mais inútil do que a proverbial pregação aos peixes. Assemelha-se, bem vistas as coisas, a um murmúrio ecoando num aquário vazio.