Muitos confinamentos depois, diante do posto de vacinação, Manuel Jorge Marmelo há-de recordar a tarde remota em que a prima espanhola o levou a conhecer o gelo. Tratava-se, com efeito, de neve, farrapos branquíssimos de neve caindo no espinhaço rochoso de uma colina alentejana. A prima ao volante (que não somos de discriminações) e os quatro marmanjos embasbacados a ver os flocos a cair diante das janelas do automóvel, acumulando-se nos cabeços e nas folhas dos carvalhos e das azinheiras, no caminho de pedras que depois subimos a pé até ao ponto mais alto do monte. Talvez devêssemos ter ficado fechados em casa, buuuu, mas nunca se sabe se ainda estaremos vivos e saudáveis da próxima vez que nevar em Castelo de Vide depois de um almoço como deve ser.