quarta-feira, 3 de setembro de 2025

«E não continuem a foder-me com papelinhos»

 Para além de Traições, adquiri ao meu vizinho antiquário um exemplar de um livro que julgava não existir: O Veneno da Madrugada, de Gabriel García Márquez. Trata-se, com efeito, da primeira edição portuguesa, da Europa-América, de La Mala Hora, romance que Gabo publicou em 1962, cinco anos antes do sucesso estrondoso que foi Cem Anos de Solidão.

Nessa primeira edição portuguesa, Francisco Lyon de Castro seguiu não só a versão brasileira do título de La Mala Hora, mas também uma boa parte da tradução para Português do Brasil, apenas ligeiramente aportuguesado. O título original do romance, creio, só voltaria a ser recuperado em 1993, quando a Quetzal o republicou com tradução de Egito Gonçalves e Horas Más escrito a letras vermelhas sobre a original capa de Rogério Petinga.

O que me tinha escapado é que a mais recente edição portuguesa do La Mala Hora, da D. Quixote (2018), acabou por misturar os títulos de todas as versões anteriores, incluindo a castelhana, passando o livro a chamar-se A Hora Má: O Veneno da Madrugada

Tudo isto para dizer que a descoberta da edição da Europa-América acabou por ser um belo pretexto para regressar a um livro poderoso - a «um caso extremamente simples de romance policial», conforme lhe chama o juiz Arcadio - e a um autor de que já tinha saudades. Lendo-o, dá vontade de usar a expressão do alcaide que dá título a este texto; e de passar muito mais tempo a ler o grande Gabo.