sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Não há almoços (nem jantares) grátis

Sinto-me hoje muito mais descansado. Pedro Passos Coelho, o primeiro-ministro que nos depenou por andarmos a viver perdulariamente acima das nossas possibilidades, não é um facínora. É apenas um pouco aldrabão. Não auferiu de nenhuma remuneração regular na Tecnoforma enquanto foi deputado em regime de exclusividade. Beneficiava apenas de "despesas de representação" para almoços, jantares e viagens a Bruxelas e Cabo Verde, as quais não têm de ser declaradas ao fisco. Segundo parece, e Passos não o desmentiu no Parlamento, tratava-se de qualquer coisa como 5 mil euros por mês para almoços, jantares e viagens. Almoçaria, se calhar, bastante acima das suas possibilidades - o que no caso dele não configura nenhum crime. Os portugueses que trabalham um mês inteiro por menos de 500 euros, ou por mil euros, ou por dois mil, e que os declaram às finanças, também gostavam muito de poder receber cinco mil euros à parte, por baixo da mesa, para almoçar, jantar e viajar. Parece-me incrível que a Tecnoforma não providencie esta benesse para a generalidade dos cidadãos de Portugal. Mas, calhando, não temos nada para oferecer à Tecnoforma e não somos capazes de gastar 5 mil euros em almoços e jantares. Até para comer e beber é preciso ter talento. Para enganar também.