terça-feira, 17 de abril de 2012
Estimei vê-la
Pela manhã, a cidade enche-se de pequenos e delicados gestos femininos. Uma mulher loura chega sempre à paragem do autocarro a bufar, muito ansiosa. Pergunta as horas. Bufa outra vez, angustiada. Às vezes atravessa a rua e apanha um táxi. Outra mulher passa com um cestinho do vime preso no braço como se fosse buscar ovos frescos à esquina. Outra ainda, de avental, vende chicharros à porta do casarão branco. Uma moça passa no autocarro mordendo uma bolacha com dentadas muito pequeninas e bonitas. Duas mulheres encontram-se e param para conversar. Dizem coisas de circunstância e depois despedem-se. A mais nova diz: “Estimei vê-la”. Quando ouço alguém que diz “Estimei vê-la” (ou “Estimei vê-lo”), sei que, afinal, nem tudo está perdido.