sexta-feira, 20 de abril de 2012
Como é bonito o amor
Diante da porta do hospital, um velhote empurra de um lado para o outro, com desvelo, a cadeira de rodas onde a velhinha jaz imóvel, a cabeça tombada para trás, um chapelito branco na cabeça, os olhos fechado, a pele com cor de cera. Empurrada pelo velhote, a cadeira vai e volta, de um lado para o outro, enquanto não chega a ambulância que há-de levar os velhos de volta para casa, onde a velhinha há-de poder morrer em paz. Então escuta-se a voz dela, dolorida, fraca, quase em agonia. Chama: "Ó Alberto". O Alberto baixa a cabeça, aproxima-a do rosto da velha, e, muito amorosamente, diz "estou aqui minha BURRA". "Não vês que a cadeira está a andar? Quem é que achas que te está a empurrar?". A velha não responde. Mantém os olhos fechados, a cabeça tombada para trás, e, de vez em quando, vai repetindo a cantilena — "Ó Alberto!..." — enquanto a cadeira vai a volta.