quinta-feira, 8 de março de 2012
Abraço no multibanco
Mesmo os mais desalmados dias escondem momentos tocantes. Hoje, ao regressar a casa, mancando, muleteando e já com uma bolha a doer-me nas mãos, parei um instante para ir ao multibanco. Quando terminei a operação, voltei-me e tinha uma pessoa atrás de mim, à espera da sua vez. Já era uma sorte, nos tempos que correm, que não fosse um assaltante, mas ainda tive direito a algo muito melhor. O próximo era um velho de mais de setenta anos que, ao ver-me manobrar as canadianas, ergueu a sua elegante bengala de madeira numa espécie de saudação muda e sorridente, assim como quem diz que os azares e as contrariedades tocam a todos, independentemente da idade que se tenha. Eu sorri também e disse que "tem que ser", mas creio que devia ter abraçado o velho. Abraço-o agora — simbolicamente.