sábado, 1 de janeiro de 2011
A caminho da meia-noite
A caminho da meia-noite, a caminho do ano novo, o metropolitano para a Baixa ia completamente cheio de uma malta animada. Falavam alto, empunhavam garrafas de champanhe e coca-cola, iam apertados uns contra os outros, empurrando-se quando o metro travava e quando o metro acelerava, estranhamente irmanados na necessidade de chegarem à Baixa antes de que o ano terminasse para verem rebentar uns foguetes e apanharem a tosga. Não sei bem o que teriam para festejar, se o aumento dos preços, se a falta de empregos, se vida de merda que provavelmente têm pela frente, mas , de qualquer maneira, invejei um pouco o facto de acharem que há alguma coisa para festejar no início de um ano (ou no fim de outro). Depois, no sentido inverso, o metro vinha quase vazio. Um casal de amblíopes falava alto e ria por tudo e por nada. Riam com a palavra "bitoque" e com a palavra "Matosinhos", com o que fosse, mas riam-se muito estrepitosamente e com convicção. Invejei-os também, a caminho da meia-noite, a caminho do ano novo, não sei se por quase não serem capazes de verem um palmo diante do nariz, ou se por serem capazes de se rirem daquela maneira parva e simples, honesta. Depois eles saíam na estação da Casa da Música, o metro entrou na periferia da cidade, a caminho da meia-noite também, a caminho do ano novo. Daí a nada, o ano mudou efectiva e rotineiramente - para que tudo continuasse exactamente na mesma.