domingo, 19 de dezembro de 2010

Lectoproedonosmia: ide e praticai-a



Perdoem-me, por favor, o tremendo palavrão, mas creio, com efeito, estar na hora de homenagear condignamente os indivíduos cuja paixão pela literatura se manifesta em todos os aposentos de uma habitação, mesmo naqueles injustamente menorizados. A lectoproedonosmia é não apenas um método perfeitamente honrado de praticar a amantíssima comunhão com os livros e, vá lá, a magia das palavras, como provavelmente, em muitos casos, o melhor momento do dia de muitos cidadãos.

Não é para me gabar, mas sou um razoável lectoproedonosmista e estou inclusivamente convencido de que esta prática me torna um pouco mais inteligente e, ao mesmo tempo, contribui para o regular funcionamento dos meus esfíncteres e, portanto, para um estilo de vida mais saudável. Por exemplo: creio que estaria hoje bastante pior da minha ressaca se não tivesse esta manhã dedicado dez minutos à leitura das primeiras páginas de “Gómez Palacio”, um dos contos de Roberto Bolaño do livro “Putas Asesinas”. E é assim, de resto, todas as manhãs, melhores ou piores conforme a qualidade literária da breve sessão de leitura.

A lectoproedonosmia – obrigado señor Rigoberto Guadamuz – é como um intervalo, um limbo, uma prega no tempo. Já não estamos a correr para tomar banho e o pequeno-almoço, mas também ainda não estamos a correr para apanhar o autocarro e ir enfrentar a jornada de trabalho. Ainda um dia, creio, a lectoproedonosmia vai ser receitada pelos médicos. O mundo será, então, um sítio um pouco melhor.