Habituámo-nos a coisas estranhas. Todas as manhãs, entre o autocarro e o emprego, passava pela cabeça de impala empalhada e deitada na montra de uma loja de mobiliário
vintage. Os olhos do ex-animal pareciam sempre muito vivazes, como se me olhassem. Essa impressão era, creio, reforçada por uma espécie de enorme verruga escura que a impala tinha no focinho. Na semana passada, porém, a loja fechou. Todas as manhãs volto a cabeça para a montra vazia e não vejo a cabeça da impala. Há ali uma estranha ausência. Sinto falta do olhar vivo daquele bicho morto.