domingo, 18 de abril de 2010
Donas-de-casa apressadas
Confrontado com as muitas ausências que o vulcão islandês causou no encontro de Literatura em Viagem, em Matosinhos, Carlos Vaz Marques, o moderador do painel dedicado ao sonho de África, propõe-me, na galhofa, que ocupe um dos lugares vagos na mesa. “Podes falar das tuas mulheres cabo-verdianas”, disse-me, referindo-se, obviamente, ao título dessa enorme insensatez que é o livro As Sereias do Mindelo. Como sou um pouco estúpido, ainda comecei a explicar que foi um erro aceitar o título que o editor escolheu, já que o livro não é propriamente sobre as mulheres de Cabo Verde, bem pelo contrário, mas que, sendo assim, parece não haver forma de escapar à ideia segundo a qual o Marmelo voltou a escrever sobre gajas e tal, como se não tivesse feito mais nada na puta da vida. Depois, a meio da explicação, ocorreu-me aquilo que devia ter sido óbvio desde o início; que o Carlos não leu o livro nem lhe interessa o que lá esteja escrito, e que apenas tinha que resolver o problema imediato de uma cadeira vazia na mesa que ele devia moderar. Fosse como fosse, eu tinha realmente que regressar a casa para tratar do jantar e cuidar das demais obrigações que estão implicitamente atribuídas às donas-de-casa.