terça-feira, 20 de abril de 2010
Bolañomania
As modas literárias, por outro lado, são quase tão estranhas quanto uma cabeça de impala empalhada numa montra. Depois de várias hesitações, cedo, enfim, à bolañomania e adquiro Os Detectives Selvagens, o qual foi publicado em Portugal em 2008 (antes da febre, portanto) e sem que quase ninguém tenha dado por ele. Os Detectives Selvagens não foi, pelos vistos, suficiente para espoletar o actual fenómeno gerado em torno dos livros de Bolaño e eu sinceramente não percebo. As primeiras duas linhas – “Fui convidado para fazer parte do realismo visceral. Evidentemente aceitei. Não houve cerimónia de iniciação. Antes assim” – foram suficientes para que acabasse tragado pelo livro, deliciado com as descobertas de García Madero, o poeta de dezassete anos que, convertido ao realismo visceral, acaba, julgo que por causa da adesão à seita poética, por beneficiar de um broche (e alguns beliscões) de Brígida, a diligente funcionária da Encruzilhada Veracruzana, precisamente quando o jovem Madero começava a inquietar-se com a vida: “O futuro não se apresenta muito brilhante, principalmente se continuo a faltar às aulas. No entanto, o que me preocupa de verdade é a minha educação sexual. Não posso passar a vida inteira a bater punhetas. (Também me preocupa a minha educação poética, mas é melhor não enfrentar mais do que um problema ao mesmo tempo.)”. Parece-me, na verdade, impossível não simpatizar com García Madero. Temo, evidentemente, pelo curso de Direito precocemente abandonado em favor do convívio com as irmãs Font.