quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

Os olhos de Júpiter


Um grupo de cientistas descobriu doze novas luas orbitando Júpiter, planeta que conta, afinal, com 92 satélites naturais pendurados no seu povoadíssimo céu, nele rodando e rodando há milhões e milhões de anos. Se lá houvesse, se lá houver um olho que seja, um olho capaz de perscrutar o espaço acima de si, há-de ver horizontes povoados de clarões esféricos, experimentando, se calhar, um desassossego gémeo ao dos distantes animais da Terra, porém multiplicado — cem vezes multiplicado. Ou talvez o feitiço dessas 92 luas seja uma inquietação constante, um frémito tão descomunal que a ele sucumbiriam, como fulminados, todos os olhos de todos os bichos que pudessem germinar em Júpiter, incapazes de suportar tanta melancolia e tanta excitação, tamanho alevantamento, tanto desvario dos sentidos, tanta desordem e perturbação. Talvez todos os olhos de Júpiter sejam, por isso, cegos.