segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Semear ventos, colher tempestades

Compreendo os receios e o desespero dos industriais (e sobretudo dos trabalhadores) da restauração face ao novo Estado de Emergência (como entendo também a apreensão dos trabalhadores da hotelaria, do comércio, das empresas de aluguer de automóveis e de tantos outros sectores ameaçados pela doença da época). Mas não sei contra quem ou contra o quê protestam ao certo e, por isso, não percebi que tivessem organizado uma manifestação em Lisboa à hora a que o país entrava em situação de recolher obrigatório precisamente para tentar que os restaurantes possam voltar a ter clientes. Realizada em ostensiva infracção das regras válidas para todos os outros portugueses, a manifestação contou com ampla cobertura dos órgãos de comunicação social, sempre ávidos de um barulhinho ou de uma confusão. Aliás, o canal público de televisão iniciou a reportagem em directo informando que os organizadores do protesto haviam acabado de apelar aos outros portugueses para se lhes juntarem no desrespeito pelo Estado de Emergência. Ora alguns portugueses não se fizeram esperar. Apareceram, por exemplo, os arruaceiros fascistas do costume, os quais aproveitaram para ameaçar jornalistas, incluindo os do canal público de televisão, e para incomodar os donos dos restaurantes. Nem uns nem outros apreciaram, pois, os efeitos da tempestade que voluntária e insensatamente criaram. Que lhes sirva de lição.