segunda-feira, 6 de abril de 2020
Aquilo que é realmente importante
Este é o tempo, segundo o marketing de alguns grandes conglomerados financeiros, de dar atenção àquilo que realmente importa: a família e aqueles que nos são mais próximos, o denodo de quem continua a trabalhar para que os outros madracem, os belos sentimentos, o altruísmo, os valores da solidariedade, a poesia no final dos telejornais e a protecção da saúde de todos. Este é o tempo, escuta-se a toda a hora, de reinventar o nosso modo de vida, tão depredador e consumista. Há-de ter sido esta fundamental consciência do verdadeiro cimento da vida em sociedade que levou os vigaristas encartados e outros operadores económicos, particularmente os grossistas de material sanitário, a criar burlas totalmente novas e a inflacionar os preços das máscaras cirúrgicas, dos desinfectantes e de outros produtos especialmente procurados neste período pandémico, cujos preços subiram 400, 500 e até dois mil por cento. Trata-se, bem vistas as coisas, de instituições geridas por pessoas que também têm família e que, findo o estado de emergência, carecerão de um chalé novo no Algarve ou, vá lá, da tranquilidade absoluta e do descanso livre de impostos que proporcionam as instituições financeiras dos Barbados ou do Belize. Fique em casa e não atrapalhe quem está a trabalhar para o próximo — para o próximo Maserati, por exemplo.