quinta-feira, 2 de abril de 2020

Mês europeu sem carros

Quando, em 2000, a União Europeia adoptou o Dia Europeu Sem Carros, nascido três anos antes em França, Greta Thunberg ainda nem sequer havia nascido. Pretendia ser uma iniciativa de consciencialização ambiental, uma forma de começar a salvar o mundo em que vivemos, já então severamente ameaçado, mas o efeito da campanha jamais alcançou resultados sequer comparáveis com o panorama limpo de que agora, por força do alarme pandémico, se desfruta em tantas e tantas cidades da Europa e do mundo, nas quais quase não há carros, gente ou qualquer tipo de actividade que justifique as fileiras de grandes edifícios cercando as avenidas e auto-estradas demasiado anchas para tão pouco trânsito. É, de algum modo, como se a Humanidade considerasse absolutamente urgente salvar-se a si própria, continuar a viver e triunfar mais uma vez sobre a finitude e sobre cada nova ameaça de morte que se lhe depara, sem ponderar no paradoxo que será continuar a existir sem que haja também um planeta em que lhe seja possível habitar. Nestes dias, e de uma forma sem paralelo, o Homem trava, assim, um combate indómito pela sobrevivência, uma inédita batalha contra a morte e o fim. E, todavia, vamos provavelmente continuar a viver e a perder tempo em coisas inúteis como se, de algum modo, nos fosse permitido viver para sempre.