quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Ilusionismo

Não é por falta de assunto que escrevo tão poucas vezes no Teatro Anatómico. Falham-me, isso sim, a disciplina, o hábito de outras épocas e o tempo para me sentar diante do teclado disposto ainda a procurar contrariar a permanente histeria dos temas da actualidade. O Brexit, por exemplo, aconteceu sem que o mundo tivesse acabado durante a noite. A Joacine não será, amanhã, mais do que uma ridícula nota de rodapé do livro das anedotas da política nacional. A engenheira Isabel continuará rica e sem vergonha. A nova doença da moda acabará controlada e inofensiva. A tenebrosa seca da pátria extingue-se, afinal, ao fim do segundo dia de chuva. O PSD talvez um dia decida se quer baixar ou não o IVA da electricidade (mas creio que, então, já não fará grande diferença). Entretidos com o fátuo fogo-de-artifício dos telejornais, nem reparamos na mão oculta que, à sombra do ar condicionado, nos assalta o bolso.