sexta-feira, 5 de outubro de 2012
Vejo as notícias e tenho muita vontade de chorar
Numa espécie de transe, como se estivesse muito bêbado ou absolutamente necessitado de me abster da realidade, que é mais ou menos a mesma coisa, terminei dois livros em menos de 24 horas, Onde Andará Dulce Veiga? e Axilas e Outras Histórias Indecorosas, coisa muito fina do Brasil, ainda que devesse ter feito, talvez, outra coisa, como virar a minha fotografia de pernas para o ar no perfil do Facebook, como está a fazer muita gente, protesto mudo e inútil. A mim, porém, dá-me para ler e para ter vontade de chorar quando vejo os telejornais e constato que, pelo caminho que leva, nem virado de pernas para o ar, como a bandeira hasteada para comemorar a república, este país terá remédio. Não sei se é a realidade que me faz querer chorar com as notícias dos telejornais, ou se é o absurdo de tudo, o triste ridículo de tudo, mas sei que estou provavelmente a dias de perder o emprego e o ordenado e que, no próximo ano, me espera um brutal aumento de impostos, disse o cabrão do ministro que não chegou a curar a meningite, e que vou continuar a ter contas para pagar, prestações para honrar, e não estou muito bem a ver como vou conseguir pagar o novo IMI à mão armada, nem sei se vale a pena continuar a pagar o empréstimo de uma casa que, um dia destes, se calhar, vou entregar ao fisco, ou ao banco, os urubus que se entendam como quiserem e que se engalfinhem para dividir da melhor maneira o cadáver do que fui, do futuro que já não espero e dos insensatos sonhos que tive. É 5 de Outubro, (ainda) é feriado e até está sol — mas os telejornais dão-me muita vontade de chorar.