terça-feira, 4 de setembro de 2012

Resposta a Rubem Focs

Pergunta Rubem Focs, o bom e velho Rubem Focs, pelas gaivotas do Douro, pela cúpula azul do céu sobre a cidade, pelos vinhos maduros na alvura das toalhas das nossas mesas – e eu tenho vontade de responder-lhe que está tudo como antes, inalterável apesar das mudanças e intacto a despeito das malfeitorias. As gaivotas voam livres como ladrões da alta finança e o rio ainda corre alheio ao movimento das privatizações a pataco (mas nunca fiando). E os vinhos... Os vinhos são a seiva que, às vezes, quando anoitece, permite embriagar os sentidos, amortecer a entorpecente sensação de desistência que vai cobrindo tudo com o seu véu de amargura gris. As coisas aqui pela terrinha não mudam nunca. As gentes estão discutindo futebol, distraídas com os circulares shows de rock’n’roll e sobressaltadas com as notícias dos fogos florestais. Governam os de sempre, governam-se os do costume, e é tudo muitíssimo decepcionante e triste, mesquinho. Mas as gaivotas voam, o rio corre, o céu persiste num azul alheio à austeridade. E, no fim do dia, temos sempre os vinhos.