segunda-feira, 20 de agosto de 2012

O almoço de quem trabalha

À hora de almoço de quem trabalha, o homem que abre uma vala no passeio, mete um cano lá dentro e volta a fechar a vala, tudo muito devagar, dois meses para cem metros de rua, o homem que abre a vala, dizia, escolhe uma sombra entre duas árvores e equilibra uma tábua sobre dois separadores de plástico. Senta-se em cima do barrote, uma perna para cada lado, abre a marmita entre os joelhos e ali fica a comer, um pouco de arroz e algo mais, voltado para o trânsito que passa. Almoça devagar e sozinho, os olhos perdidos e tristes num ponto qualquer do asfalto da rua, enquanto os carros passam, vrrrrooooaaam, vrrrrrrrooooaaaam, vrrrrrooooooaaaam, e a pausa para o almoço se extingue.