terça-feira, 31 de julho de 2012
O homem das batatinhas
Coisas simples. O velhote avança pela praia, boné branco na cabeça encanecida, a imitar um marujo, com uma carteira de couro a tiracolo. Numa mão traz o grande saco, na outra a corneta que toca, fon-fon-fon, apertando uma espécie de bola de borracha. Fon-fon-fon. Oooooooolháá batatinhaaaa. Batatinha. Oooooooolháá batatinhaaaa. Os miúdos que, pela idade que têm, já devem ter comido milhares de McShit e assim, voltam a cabeça, sorriem e ouvem-se as suas vozes repetindo "batatinha", "batatinha", "batatinha", festivas exclamações pipocando no areal. Correm a cercar o homem das batatinhas, rodeiam-no já com o dinheiro na mão, ansiosos, e recolhem os cartuchinhos de papel. Depois vão-se deitar outra vez nas toalhas, a mastigar as rodelas estaladiças de batata, enquanto o velho avança para a praia seguinte, apertando a corneta, fon-fon-fon, e anunciando a batatinha, oooooooolháá batatinhaaaa. Uma coisa simples assim.