Crónica do dia 23/6 na coluna Eurobond do Público
Enquanto indivíduo que gosta de escrever sobre a única modalidade desportiva a que se dedicou com relativa seriedade (guarda-redes nos infantis do Boavista, trinco nos iniciados, número 10 nos juvenis e juniores do glorioso Ramaldense FC), e que até entrou na profissão pela porta da secção de Desporto, ver a minha participação jornalística no Euro 2012 reduzida a esta crónica constitui uma enorme decepção. Como se isto não bastasse, ainda perdi uma bela justificação para ficar a ver os jogos todos em vez de cuidar da lida doméstica.
No Mundial de 2006 e no Euro 2008 ainda fui convocado para uma crónica semanal aqui no PÚBLICO. Via os jogos, analisava-os, lia os jornais desportivos e conjugava memórias para garantir a sensação apaziguadora do prazer cumprido. No último Mundial, na África do Sul, e apesar de o PÚBLICO ter prescindido dos meus serviços desportivos, pude representar Portugal nas crónicas do blogue Papeles Perdidos, do El País. Como não domino o idioma, foi um pouco como se o João Pereira fosse posto a jogar a defesa-esquerdo. Mas pelejei honrosamente com a língua de Cervantes, fazendo por merecer o que me estavam a pagar (e por me divertir a fazê-lo).
Este ano, porém, é só isto. Quando tiver posto o último ponto final desta crónica, ter-me-ei transformado numa espécie de Rolando, o suplente que Paulo Bento utiliza para fazer aquelas substituições para perder tempo, a dois minutos do apito final (e que ainda nem sequer mereceu nota artística aqui no PÚBLICO). Começo e acabo este Europeu polaco-ucraniano sem ter chegado a transpirar. Só num imaginário banho final dos cronistas, quando estivéssemos todos nus no balneário, é que seria parecido com o Santiago Segurola.