terça-feira, 1 de março de 2011
Os perigos de ler o Quixote
Cada um carrega a cruz que lhe cabe em sorte - e a minha consiste numa absoluta falta de seriedade, “essa senhora demasiadamente tida em conta”, como escreveu Julio Cortázar num dos textos que compõem Volta ao Dia em 80 Mundos. Não sou, pois, o “escritor típico”, aquele que, quando chega ao momento de se pôr a trabalhar num conto ou numa novela, “mete o colarinho duro e sobe para a parte mais alta do roupeiro”. E muito menos o faço quando toca a escrever neste mui destrambelhado Teatro Anatómico, onde pratico, no essencial, as esquivas artes da balbúrdia e da superficialidade. Hoje, por exemplo, li no P2 que Hitler era um amante de livros, coisa que há-de contrariar, e muito, os bem-intencionados que acreditam que o contacto com a literatura produz pessoas melhores. Acresce a isso que Hitler tinha, entre os seus livros preferidos, o D. Quixote de la Mancha, de Cervantes. Ora, eu conto passar ainda esta tarde pelos correios para ir buscar a versão do Quixote modificada para o Português pelo Aquilino Ribeiro e, tendo lido o que li esta manhã, prometo vigiar-me atentamente, a fim, ao menos, de não acabar um dia destes a invadir a Polónia.