terça-feira, 1 de março de 2011

Livros vibrantes como tigres de papel (Moacyr Scliar, 1937-2011)


Nunca é tarde, creio, para homenagear um morto - ele dispõe da eternidade toda para nos ignorar. Só agora, pois, invoco Moacyr Scliar, o escritor brasileiro falecido no último fim-de-semana, provavelmente à mesma hora a que um bando de outros escritores erguiam cálices à vida e à literatura no bar de um hotel da Póvoa de Varzim. Nem todos, parece-me, estaríamos, então, tão vivos e tão de boa saúde literária como Scliar sempre estará, presente ali naquele canto na estante, num sítio que é só seu, entre Erico Verissimo e Raduan Nassar. Vou e passo o gume dos dedos por O exército de um homem só, A mulher que escreveu a bíblia, A majestade do Xingu e Os leopardos de Kafka. Sento-me e olho a fileira de lombadas, onde os livros de Moacyr Scliar parecem muito vivos e vibrantes, mais vivos e vibrantes do que os livros comuns, exactamente como sucedia aos paradoxais tigres de Kafka, os quais, sendo apenas escritos, tinham mais consistência do que os animais reais.

(não convém, entretanto, deixar de ler os dois textos que o editor Luiz Schwarcz escreveu)