sábado, 23 de outubro de 2010

O Inverno

O pão, esta manhã, tinha já pedaços de uma marmelada rija e boa, de um tom dourado e honesto. Depois, ao final da tarde, enquanto a cidade arrefecia e se punha agreste — ou talvez me pareça agreste a mim, que por ela ando como em terra estranha — entrei numa mercearia para comprar castanhas e romãs. Assei as castanhas, abri o vinho e regalei-me melancolicamente enquanto a Mayra Andrade cantava, como se fosse só para mim, aquela música do Orlando Pantera que sempre me arrepia e enternece, aquela que diz "bo feitiss ta infeitissa-m/bo prága t'amaldisua-m/bo séka ta seka-m nha peit/más mésmu asim ja-m-kre-b oh morna". Chegou o Inverno, parece. Talvez seja do final de Outubro. Talvez seja só de mim.