terça-feira, 6 de abril de 2010

Oblomov, Porto, 9h30 a.m.

Passei uma parte da noite a sonhar que escrevia vários posts para o blogue, o que, além de inquietante, é admirável e bizarro, uma vez que escrevia esses textos imitando o estilo de Enrique Vila-Matas. Acordei, por isso, um pouco estremunhado e exausto pela intensa e febril actividade intelectual mantida durante o sono. Enquanto tomava o café, a televisão do estabelecimento noticiava que se comemora hoje o Dia Mundial da Actividade Física, coisa que dificilmente me poderia contrariar mais, na medida em que, inspirado por Vila-Matas, eu aspirava a estar ainda na cama, imaginando os textos extraordinários que aqui poderia escrever e, porém, não fazendo absolutamente nada que não fosse preguiçar, exactamente como Oblomov, o jovem personagem de um romance de Ocharov de que Enrique fala numa entrada do seu Diário Volúvel. Oblomov, explica o escritor, limita-se a permanecer deitado num divã, tentando evitar problemas, propostas e obrigações. "Encolher os ombros é a sua expressão preferida. Pertence a esse tipo de pessoas que têm o hábito de repousar antes de se fatigarem". Entro no emprego invejando profundamente Oblomov e incapaz, na verdade, de encontrar qualquer utilidade aos problemas, preocupações, chatices e obrigações que aqui me esperam.