segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Os judeus ao espelho

 Traições, que há dias comprei ao meu vizinho antiquário da Rua do Mestre Jorge, não é, nem de longe nem de perto, um dos melhores livros de Philip Roth. Para simplificá-lo de algum modo, parece composto por sobras de outros livros do autor norte-americano: fragmentos de diálogos, dissertações, capítulos recusados... 

Num daqueles diálogos, um judeu (como Roth) diz o seguinte: «Porque é que toda a gente aqui detesta tanto Israel? Podes explicar-me? Agora tenho uma discussão de cada vez que saio. E volto para casa numa fúria e não consigo dormir toda a noite. Sou um aliado, de uma maneira ou doutra, das duas maiores escórias mundiais: Israel e América. Concedamos que Israel é um país terrível...». 

O livro, refira-se, foi publicado em 1990. Hoje seria bastante mais fácil de compreender: detestamos os judeus, os russos, os americanos, os otomanos ou os alemães de cada vez que os respectivos líderes parecem transformar um povo inteiro num agressor sádico do próprio conceito de humanidade.