Vejamos: aqueles empresários da restauração, creio que são nove, exigem ser recebidos pelo governo, o qual, se lhes fizesse a vontade, em vez de negociar com os representantes do sector, teria de conceder igual atenção a cada um dos proprietários dos 50 mil restaurantes do país, todos com dificuldades semelhantes. Talvez fosse possível terminar as reuniões lá para 2057, isto se o governo não tivesse também de conversar com os 350 mil trabalhadores do sector, e com os empresários e trabalhadores dos outros sectores, nem todos beneficiários, até agora, dos enormes lucros que permitiram a alguns patrões viver regaladamente, literalmente a champanhe e caviar.
Soube-se, entretanto, que foi exactamente assim que, até aqui, viveram alguns dos grevistas da fome do parlamento. Possuem herdades no Alentejo, aviões, barcos de recreio e alguns dos automóveis mais caros do mundo. E estão no seu direito. O que importava saber é, isso sim, quais os ordenados que, ao mesmo tempo, esses agora tão reivindicativos senhores pagavam aos respectivos trabalhadores; e quantos despediram à primeira oportunidade que a actual crise lhes proporcionou.
Ouvi, numa televisão, um dos grevistas da fome habituados a champanhe e caviar defender-se dizendo que a manifestação pretende garantir a manutenção do estilo de vida conquistado ao longo dos anos. Mas em nenhum momento pareceu considerar, ao menos, a hipótese de restituir à própria empresa o dinheiro que dela retirou ao longo dos anos a fim de sustentar aquele nível de vida. É muito mais fácil se, como de costume, forem os contribuintes a tapar o buraco.
Ainda mais engraçado, mas nada surpreendente, é ver os supostos arautos do liberalismo juntarem-se ao protesto e a berrar como possessos, exigindo que o governo ceda gentilmente a todas as pressões e use o dinheiro público para que esta gente ateste os depósitos dos Maseratti. Enfim: sobra-lhes em desfaçatez o que lhes falta em vergonha na cara.