sexta-feira, 25 de abril de 2014

Da liberdade - uma espécie de poema


Em mil novecentos e setenta e cinco
Salvo erro
Era verão
E levaram-me ao hospital
para me cortarem as amígdalas.

À noite doía-me a garganta
Quando os outros fedelhos
Começaram a cantar na enfermaria
A canção em que uma gaivota
Voava-voava
Somos livres como ela
E tal.

Não consegui cantar por causa das dores
E entendi deste modo
No escuro da enfermaria
Que a liberdade tem a vantagem
De não ser obrigatória
Se nos doer muito o sítio
Onde antes tínhamos as amígdalas.