"Os senhores sabem melhor do que eu que para ser deputado há que ter tido uma carreira de mentiras, começando como vadio de comité, sem nada fazer; lidando e fazendo vida comum com perdulários de toda a espécie, enfim, uma vida à margem do código e da verdade. Não sei se o mesmo se passa em países mais civilizados que o nosso, mas aqui é assim. Na nossa câmara de deputados e senadores há sujeitos acusados de usura e homicídio, bandidos vendidos a empresas estrangeiras, indivíduos de uma ignorância tão crassa que o parlamentarismo resultou entre nós na comédia mais grotesca que poderia ter envilecido o nosso país. As eleições presidenciais fazem-se com capitais norte-americanos, com a promessa prévia da outorga de concessões a uma empresa interessada em explorar as nossas riquezas nacionais. Não exagero quando digo que a luta dos partidos políticos na nossa pátria não é mais do que uma disputa entre comerciantes interessados em vender a quem faça a melhor oferta".
Em "Os sete loucos", de Roberto Arlt, Argentina, 1929 (edição portuguesa da Cavalo de Ferro)