segunda-feira, 26 de março de 2012

Aprender a caminhar como um homem


Depois de quatro semanas a locomover-me com o auxílio de utensílios ortopédicos, vulgo canadianas, ou muletas, obtive hoje autorização médica para voltar a caminhar apenas com os pés (e fazer “vida normal”, disse o senhor doutor). Experimentei, por isso, uma alegria pueril, daquelas que só as coisas pequenas e aparentemente insignificantes alcançam – como se tivesse 10 anos e acabasse de receber uma bicicleta nova (ou de ver as calcinhas da prima, mas isso agora não interessa nada). Voltei, pois, a ser um bípede, ainda que, ao fim de quatro semanas, precise de aprender outra vez a caminhar como um homem. Vem-me vagamente à memória uma remota canção do Bruce Springsteen e a imagem de um menino de cinco anos seguindo as pegadas que o pai deixou na areia, e tentando aprender a andar como ele. Devo absolutamente, por isso, ir caminhar à beira-mar, no ponto exacto onde as ondas se extinguem e, de algum modo, o mundo começa; deixar aí as marcas efémeras do meu recomeço.