A sempre benemérita câmara municipal portuense escreveu-me. Encontrei aquela espécie de postalinho, um dia destes, na caixa do correio, comovendo-me um pouco com as queriduchas explicações do Gabinete de Comunicação e Propaganda. Tão amorosos! Informavam-me de que as obras de requalificação na Avenida da Boavista estão quase concluídas, acrescentando, mui carinhosamente, que só vão plantar as árvores e pintar as pistas para as bicicletas depois do espectacular grande prémio automóvel, para que as malvadas das carripanas não prejudiquem uma obra toda ela voltada para a fruição cidadã, para o bem-estar da população e para a alta recreação dos portuenses.
Como disse, comovi-me um pouco com as explicações e cheguei a arrepiar-me um bocadinho com a preocupação demonstrada pela ternurenta edilidade. Desfazem-se em simpatia, é o que é. Só naquele bocado da avenida, entre o mar e Rua de António Aroso, a autarquia já fez obras de alto lá com elas por duas vezes no espaço de quatro anos — e tudo para a nossa comodidade. Será um bocadinho verdade que, mais acima, na zona entre a VCI e a Rua de João Grave, o passeio reservado aos peões parece um caminho de cabras, com uma vala no meio e pedaços irregulares de cimento espalhados ao calhas, mas, muito francamente, ninguém com um mínimo de bom gosto vai andar a pé para a Avenida da Boavista. Para além do mais, tenho a certeza absoluta de que, no dia em que passar por ali um carro de corrida, o doutor Rio mandará imediatamente ladrilhar o passeio em causa com pedrinhas de brilhantes, como na velha canção, para mostrar ao povo como é que se faz para este país andar para a frente.