terça-feira, 30 de março de 2010
Visitadoras e vivandeiras
No romance Pantaleão e as visitadoras, de 1973, o peruano Mario Vargas Llosa põe em cena o eficiente tenente Pantaleão Pantoja, ao qual é ordenado que crie um serviço de prostitutas especializado em suprir as necessidades dos batalhões deslocados na selva, de modo a manter alta a moral das tropas em tão rigoroso retiro. O enredo é divertido e, parece, muito original, ainda que não me espantasse hoje se me dissessem que Llosa se inspirou, para criá-lo, na referência que José Cardoso Pires faz, n’O Hóspede de Job, de 1963, às vivandeiras evocadas por Aníbal (um velho que, “sabendo bastante mais do que soletrar, conservava a prodigiosa memórias dos analfabetos”). Aníbal recorda que, segundo era voz corrente, as vivandeiras “acompanhavam noutras eras as grandes marchas dos exércitos”, comportando-se “como soldadesas, amparo da carne e alegria do militar”. “Vivandeiras? Estarei eu enganado ou existiram de facto essas mulheres?”, pergunta-se o velho. Calhando, não importa nada. Chamem-se vivandeiras ou visitadoras, essas mulheres têm uma consistência muito real – na literatura.