segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Anónimos do século XXI




Li em idade tenra, e com perturbada volúpia, as memórias eróticas de Fanny Hill, obra publicada sob anonimato no século XVIII (sabe-se agora que o livro foi escrito por um tal John Cleland enquanto esteve preso em Londres). Outros grandes momentos da literatura erótica, como Teresa Filósofa, Escola de Raparigas, Os Desejos de Eveline ou Memórias de uma Princesa Russa, justificam, assim, alguma simpatia pela figura do “anónimo do século XVIII” (bem como pelo anónimo do século XIX e dos seguintes). Confesso, porém, que, numa época em que, a pretexto da responsabilização e da transparência dos métodos, os jornalistas são incitados a não citar fontes anónimas (ou não identificadas) e a assinarem as respectivas prosas, para que não pareçam filhas de pai incógnito, me provoca alguma confusão que os editoriais dos jornais possam ser obra de ilustres anónimos do século XXI.