sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Béart

Eu não sabia que La Belle Noiseuse era filme para quase quatro horas de cinema, mas, em todo o caso, o sábado estava feio e pareceu-me que vê-lo seria uma maneira tão boa como qualquer outra de fazer transcorrer o excesso de tempo livre. Ainda estava em branco sobre o filme e os seus meandros quando ameacei passar pelas brasas e a cabeça me tombou sobre o ombro esquerdo, talvez babando-me um pouco graças a um tipo de torpor pós-prandial que só o cinema francês consegue produzir. Mas depois entrou em cena o corpo nu de Emmanuelle Béart, mais bela do que impertinente, esticada para um lado e para o outro, devassada, com aquele olhar febril e meio louco que havia nos olhos de quase todas as mulheres que amei, e o meu sono espantou-se e eu fiquei o resto do tempo em vigília, vendo Béart mesmo quando o filme ameaçava tornar aborrecido o corpo dela, por ser demasiado óbvio que pintura nenhuma havia de conseguir captar a simples alquimia da luz e da sombra transcorrendo na pele dela.