domingo, 25 de outubro de 2009
Uma ideia
Tenho, às vezes, excelentes ideias, mas, sendo, como são, excelentes ideias minhas, sucede-lhes pecarem por ser também algo tardias e, quando se vai a ver bem, não são, afinal, tão boas ideias quanto isso. Por exemplo: ocorreu-me que poderia ser bastante divertido estar a escrever durante a noite passada, no momento, sempre misterioso, em que o relógio anda para trás e, sendo uma da manhã, volta a ser meia-noite outra vez. Imagino isto: que estava a escrever qualquer coisa entre a meia-noite e a uma, febril e inspiradamente (como sucede aos escritores a sério), e que, nesse intervalo, chegava a criar alguma coisa particularmente brilhante ou, vá lá, ao menos um pouco interessante (sonhar não custa nada). Estava, pois, escrevendo, castigando o teclado do computador, uma frase atrás da outra, todas com nexo e sentido, entusiasmando-me. À uma da manhã, sem ter noção das horas, recosto-me na cadeira, passo a mão pelo cabelo, acendo uma cigarrilha e pisco os olhos no exacto instante em que volta a ser meia-noite. Fecho, pois, os olhos apenas durante uma fracção de segundo, mas, quando volto a abri-los e a olhar para o monitor, constato que se apagaram todas as letras, pontos, vírgulas, parêntesis e travessões – gosto de escrever com parêntesis e travessões - que tinha estado a juntar desde a meia-noite anterior. Reparo nisto e não tenho como saber se aconteceu de facto ou se estou a inventá-lo agora mesmo.