quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Fisioterapia

Se não contar com a minha fisioterapeuta, que parece divertir-se bastante enquanto tenta esticar-me o pernil e eu me contorço com dores, a utente mais bem-disposta da fisioterapia é a senhora gorda que avança pelo corredor como uma animal pesado e lento e que, a cada passo, diz que vai ser violada. Através das cortinas, ouço-a repetir várias vezes a expressão, mas não me parece que o faça para se queixar de alguma coisa em concreto. Dito por ela, a frase "estão-me a violar" (sic) soa um pouco como uma ameaça nem sequer particularmente velada.

Esta manhã vi-a pela primeira vez quando entrou no corredor dos cubículos e passou diante da frincha da minha cortina. Usa o cabelo curto, penteado com água para disfarçar a falta de banho matinal (procedimento equivalente, em política, à frase "cometemos muitos erros" proferida por Pedro Passos Coelho). Enquanto passava pelo corredor, a mulher comentou que lhe faltava o homem e seguiu adiante. Daí a um pedaço, ouvi-a anunciar que se ia pôr de cu para o ar. Não sei bem porquê, mas também me lembrei de Passos Coelho e da posição preferida do governo a que este trampolineiro presidiu.