quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Uma boa polémica política


Poucas coisas são tão dignas da minha atenção como uma boa polémica política: por exemplo aquela que, esta semana, teve por objectivo determinar se se pode confiar cegamente nas promessas que estão estampadas na capa da revista Playboy de Fevereiro, edição portuguesa. Ou, por outras palavras, se as fotografias da ex-cantora Dora foram ou não objecto de tratamento no Photoshop, eliminando-se-lhes uma cicatriz que certamente aviltaria o resultado final do nu artístico (uma redundância, bem sei) a que a outonal cançonetista se expôs.

Em primeiro lugar, pretendo declarar que estou perplexo e mesmo que me sinto um pouco lesado, pois, palavra de honra, nunca me tinha ocorrido que a Playboy pudesse cometer o despautério de manipular fotografias recorrendo ao uso do diabólico Photoshop. Só faltava, muito sinceramente, que algum jornal de referência viesse agora publicar um trabalho de jornalismo de investigação revelando, para escândalo geral da nação, que também as fotografias dos anúncios de perfumes e cosméticos são falsificadas na vil aplicação informática, ou, quem sabe?, que essas garotas de sonho que enchem as páginas das revistas costumam maquilhar-se ou depilar-se antes de serem fotografadas. Um dia destes, pelo caminho que isto leva, ainda nos dizem que algumas dessas belezocas procederam a cirurgias plásticas com o intuito de parecerem mais abonadas do que são, ou menos decaídas, ou até, ó inclemência, que Pedro Passos Coelho insinuou, em algum momento da sua vida recente, que não aumentaria os impostos no caso de ser eleito primeiro-ministro.

Muito francamente, também acredito que é necessário estabelecer limites à quantidade de vigarice que pode ser admitida quando alguém se oferece à avaliação pública. Mas, convenhamos, nenhum de nós terá a ousadia de imaginar, sequer, que Dora, a bem conservada senhora de 46 anos, só continua assim apetitosa na medida em que, não há muito tempo, deu um jeito às mamas ou procedeu a uma lipo-aspiração. Mas isto nunca se sabe. Sendo autora daquela canção de intervenção dirigida aos membros do actual governo ("Não sejas mau para mim, ó-ó, ó-ó"), Dora corre mesmo o risco de ser objecto de um processo judicial por abuso da liberdade de expressão, respondendo perante os tribunais como, outrora, os perseguidos pela Santa Inquisição.

Coloca-se ainda a questão de determinar se Dora, apesar do aspecto saudável que continua a ostentar, será capaz de suportar todas as insinuações e torpes malfeitorias com que ainda pretendam achincalhá-la e denegri-la (mas qual é a pressa?). Neste particular, e tendo observado com a minúcia possível alguns dos retratos recentemente revelados, creio estar em posição de citar um venerável e abnegado filantropo português: "Ai aguenta, aguenta".


P.S.: Estou tão indignado com o Fernando Ulrich que, se alguém quiser ter a fineza de me ceder algum dinheiro, vou imediatamente ao BPI pagar a hipoteca e encerrar a minha conta.