quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

Mais depressa nos cai o asteroide em cima

 Um telescópio em funcionamento no Chile detectou, a 27 de Dezembro, o asteroide 2024 YR4, cuja rota pelo espaço fez elevar os níveis de alerta das agências espaciais norte-americana e europeia. De acordo com os cálculo já efectuados, há 1,3% de probabilidade de aquele corpo celeste chocar com a Terra em Dezembro de 2032 (daqui a oito anos, portanto).

Um cálculo de probabilidade é apenas isso, um cálculo de probabilidade, e não é sequer impossível que, no actual quadro geoestratégico mundial, o planeta nem sequer subsista até 2032 ou que a espécie humana  já não esteja entre aquelas que resistirão à insânia. Como escreveu Shakespeare, «o nosso futuro não reside nas estrelas, mas em nós mesmos», o que, muito francamente, parece constituir, neste caso, uma adversidade substancial.

Suponhamos, ainda assim, que ainda haverá Terra e humanidade em 2032, e que, estando os cálculos errados, o  asteroide 2024 YR4, ou outro qualquer, chocará connosco e provocará a angústia e a destruição antecipada pelos filmes-catástrofe de Hollywood. Um optimista inveterado tenderá a ver nesse desastre uma oportunidade para que eventuais sobreviventes recomecem a História da humanidade a partir de uma base mais sustentável, não apenas do ponto de vista demográfico e tecnológico, mas sobretudo de uma perspectiva ética.

Para que tal fosse possível, seria necessário supor, porém, que o asteroide 2024 YR4 possuiria uma capacidade selectiva que permitiria que os justos se salvassem, condenando apenas os facínoras, os vigaristas, os mentirosos, os ambiciosos, os gatunos e os tiranetes tresloucados (algo que, conforme bem sabemos, não parece estar ao alcance dos asteroide ou dos vírus pandémicos). Pelas minhas contas, a probabilidade de que algum acidente natural ou artificial contribua para melhorar a espécie humana é muito inferior a 1,3%. Mais depressa nos cai o 2024 YR4 em cima.