quarta-feira, 21 de setembro de 2022

O Bolhão está lindo. E tristonho.


Fui ao Bolhão. Esperei que amainasse o foguetório e fui. Tinha de ir. Lembro-me ainda muito bem de como era (ver este texto; ou este) e queria constatar como ficou depois da reabilitação liderada pelo arquitecto Nuno Valentim, autor de outras renovações de grande mérito, como o Palácio da Bolsa ou o edifício do Jardim Botânico).

E está lindo, o nosso Bolhão: impecavelmente recuperado na sua traça arquitectónica, devidamente modernizado e confortável. Os meus sinceros parabéns, pois, à Câmara Municipal do Porto e ao Nuno Valentim. Trata-se, não tenho qualquer dúvida, da mais relevante obra realizada na cidade em várias décadas, do ponto de vista patrimonial e simbólico.

O cheiro a novo começa a dar lugar aos odores próprios do lugar, ao perfume do toucinho salgado e dos enchidos, ao cheiro do peixe fresco, à espantosa cor das frutas e dos legumes. Mas, talvez pelo dia pardacento, também me pareceu que o Bolhão estava tristonho, como na ressaca da grande festa. Estranhei o silêncio, a falta da algazarra de outros tempos. Ninguém procurou atrair-me para a sua banca, ninguém me chamou "filhinho", ninguém me perguntou se queria comprar qualquer coisinha.

Talvez o tempo o resolva. Ou pode ser que o novo silêncio bem comportado do Bolhão seja só mais um sinal de que o Porto turístico de agora vai aos poucos perdendo a genuinidade e o espírito que outrora teve.