segunda-feira, 21 de março de 2011

Os fulgores metaliterários da Primavera (ou então sou eu que...)

A Primavera está no ar e eu entendi que seria conveniente voltar a sair de casa, logo pela manhã, usando óculos escuros – uns óculos escuros apenas relativamente parecidos com aqueles que eu vi o Enrique Vila-Matas usar em Matosinhos e que são os mesmos óculos, afinal, com que ele está na fotografia que vem na badana de Dublinesca, tirada pelo Daniel Mordzinski apenas alguns minutos antes de ele ter entrado na sala de conferências como se fosse o misterioso personagem da gabardina mackintosh de Ulisses. Já os meus óculos de sol são apenas os mesmos que eu uso há vários anos e, na verdade, nunca me tinha ocorrido que pudessem ser minimamente literários. Esta manhã, porém, enquanto seguia pela rua de mãos dadas, tomando o primeiro pólen da manhã, a minha namorada comentou que eu parecia o Vila-Matas – como se a leitura de Dublinesca não me estivesse apenas a dar vontade de dormir belas sestas, mas acabasse também por promover uma espécie de misteriosa simbiose. Ou isto ou, muito mais prosaicamente, a Vanessa quis apenas dizer que estou a ficar careca.