quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

Ficções para sempre inéditas

 Desde que disponibilizei os contos de Um tão brando amor, principiei já outra meia dúzia de histórias novas que provavelmente não chegarão a lugar algum. Adoptei, neste afã, um estilo ligeiro e irónico, o qual, noutro tempo, talvez me garantisse alguns leitores (mais do que catorze, pelo menos), algo que, no actual contexto editorial e cultural, me obrigaria a nascer outra vez e a considerar as redes sociais a melhor coisa que inventaram desde o insecticida e a bomba de neutrões. E, todavia, escrevo essas histórias e depois abandono-as, persuadido de que constituem uma perda de tempo inaceitável numa pessoa que em breve estará a frequentar consultas de Geriatria e lares de terceira idade com serviço para acamados. Mas depois reconsidero. É provável que, nos lares do meu futuro próximo, não encontre nada melhor para fazer do que escrever ficções inéditas, para sempre inéditas, e que poderiam até parecer divertidas e refrescantes a algum (raro) humano ainda dotado de sentido de humor e vontade de ler alguma coisa que pareça não ter sido escrita por uma aplicação de inteligência artificial. Serão, essas ficções, porém, um segredo só nosso - meu e do processor de texto.