Num post do final de Outubro, chamei festim suicidário à estúpida crise política que conduziu à dissolução do parlamento, a eleições antecipadas e à possibilidade de passarmos a ser governados pelo energúmeno do Bom Sucesso e pelos seus aliados radicais cristãos, ultraliberais e neofascistas. Conheço-o bem: de 12 anos à frente da Câmara do Porto e de uma gestão patibular que só não matou a cidade de atraso e pasmaceira porque a Ryanair a salvou, inundando-a de turistas, e que perseguiu de modo soez todos aqueles que se atreveram a questionar as suas opções. Tê-lo à frente do governo de Portugal há-de ser um pouco como voltar aos anos 1960, às bolas de naftalina, à pobreza de mão estendida, remendada e orgulhosa do seu atraso, aos dias sombrios de silêncio e muito respeitinho. Não votarei, por isso, em nenhum dos três partidos responsáveis por esta escabrosa possibilidade, os quais agora, acossados pelas sondagens, se dizem disponíveis para futuros entendimentos. Tivessem conversado em Outubro. Se não era possível manter a geringonça, tivessem inventado a traquitana, a engenhoca, a maquineta ou a caranguejola, qualquer coisa, enfim, que nos livrasse deste refrigério, desta morte, deste frio que nos sobe ao pescoço como um réptil viscoso e gordo.