sexta-feira, 9 de julho de 2010

Larissa Riquelme ou quando o futebol foi, mais do que nunca, uma questão estética



Não é de bom-tom contrariar o mestre. Se o brasileiro Luis Fernando Verissimo (vénia) diz que a grande figura do Mundial de Futebol da África do Sul foi Diego Armando Maradona, treinador da Argentina e divindade da igreja maradoniana, então é provável que tenha sido mesmo assim. Há, todavia, um conjunto de pessoas, se calhar perdidas e totalmente irrecuperáveis, que só viram a Larissa Riquelme. Perguntem-lhes quem marcou o terceiro golo alemão no jogo dos quartos-de-final com a Argentina e eles encolherão os ombros. Mas fale-se-lhes na Larissa Riquelme e verão como os seus olhos se iluminam e sorriem, sonhadores e lúbricos.

Larissa Riquelme, manequim paraguaia de 25 anos, era, antes do Mundial, uma quase desconhecida. Quando apareceu numa praça de Assunção cheia de adeptos do Paraguai, durante a transmissão do jogo com a Itália - com uma blusa justa e decotada, vibrando com o golo da selecção do seu país -, as imagens deram a volta ao mundo várias vezes (e ainda não pararam). Soube-se, depois, que tinha sido contratada por uma empresa de telecomunicações para fazer publicidade a um aparelho que, muito convenientemente, passava o jogo depositado no generoso decote da moça. Houve até quem tenha realmente reparado no telemóvel, o que, convenhamos, não era fácil.

Morena, bonita e sensual, Larissa despertou o interesse dos media e em pouco tempo se ficaram a conhecer outras fotografias suas, menos desportivas e mais arrojadas. Também foi entrevistada e, entre várias coisas sem interesse, declarou o seu fervor patriótico prometendo despir-se no caso, então bastante improvável, de o Paraguai atingir as semifinais da competição. Entusiasmada pela promessa, ou por outro motivo qualquer, a selecção superou as expectativas e foi-se aguentando na competição.

A expectativa em torno de Larissa nunca mais parou de crescer. Multiplicaram-se as fotografias dela, as pesquisas no Google, os amigos e seguidores no Facebook, as propostas de contratos milionários (consta que a revista Playboy ofereceu um milhão de euros por um ensaio fotográfico). A Espanha era favorita no jogo dos quartos-de-final com o Paraguai? Ninguém queria saber. O futebol transformara-se, mais do que nunca, numa questão estética e impunha-se escolher, isso sim, entre os passes rendilhados de Xavi, Iniesta e Villa ou o sinuoso contorno de Larissa.

Quando o Paraguai perdeu o jogo, os adeptos dividiram-se. Houve quem agradecesse aos espanhóis por terem evitado que os pobres dos bairros de lata paraguaios se anestesiassem com o ópio da festa do futebol e quem, desolado, visse esfumar-se a possibilidade de ver Larissa em pêlo. A desilusão durou pouco, porém. Esta semana - e porque os jogadores se tinham portado como verdadeiros heróis e mereciam, apesar da derrota, uma justa homenagem - um jornal paraguaio (o Diário Popular)revelou, enfim, as tão esperadas fotografias da moça, revelando o pouco que ainda não se tinha visto. Se valeu a pena? Depende. Larissa é, afinal, apenas uma mulher. Mas também houve, neste Mundial, vários jogos com muito menos interesse.