sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

As minhas percepções

Não contava escrever-vos antes do Natal, ó imaginários leitor deste blogue, tão convencido estava de que deveis andar entretidos com quiméricas compras, com a preparação de utópicas rabanadas ou com a montagem de presépios repletos de personagens de ficção. Este texto, seja como for, também está aqui e, vupt, é como se não existisse.

A rusga ontem levada a cabo em Lisboa pela polícia de um Estado (supostamente) de Direito é, porém, demasiado grave e infame - como infames foram as explicações do putativo primeiro-ministro (para não lhe chamar algo pior) - para que um cidadão se possa dar ao luxo de não se sobressaltar. Outra vez, já agora.

Uma vez que a justificação (chamemos-lhe assim para simplificar a comunicação) do qualquer-coisa-negro para a "muito importante" violação dos direitos individuais daqueles cidadãos remete para uma suposta "percepção" da criminalidade, gostava de declarar o seguinte: 

1. na minha percepção, existem proporcionalmente mais (e maiores) criminosos em Cascais, no Estoril e na Lapa do que no Martim Moniz.

2. do mesmo modo, percepciono que os vizinhos do doutor Rui Moreira em Nevogilde, na Foz do Douro, em Matosinhos-Sul, em Lordelo do Ouro ou em Massarelos lavam muito mais dinheiro, e muito mais branco, do que as lojas de souvenirs "de paquistaneses".

3. também percepciono que nunca ninguém incomoda os gangues de Cascais, da Lapa, de Nevogilde, da Foz do Douro, da Quinta da Marinha ou de Massarelos, embora lesem a comunidade de uma forma que faria corar de vergonha os desgraçados do Martim Moniz (se não tivessem mais com que se preocupar).

4. tenho igualmente uma vaga impressão de quem se tem empenhado em amplificar o ódio, a xenofobia e o fascismo que realmente justificam infâmias como aquela que ontem sucedeu no Martim Moniz. Mas esses hão-de sempre comportar-se como as beatas da ficção e bater com a mão no peito para garantir que são muito defensores da democracia e da liberdade de expressão.