terça-feira, 6 de junho de 2023

Apontamentos para memória futura

 A brisa que vem da janela voltada a Norte traz o perfume da figueira e, à noite, as osgas deambulam pela parede à cata do mosquito que me há-de comer vivo durante a madrugada. A flor das tílias incensa o plenilúnio e as andorinhas traçam no ar concretos arabescos que não sou capaz de decifrar. Nas antigas termas, a exposição dedicada aos arquitectos Ernesto e Camilo Korrodi lança uma luz nova sobre as ruas da vila e o seus mais icónicos edifícios. Chegam turistas de todas as cores, de todos os ventos; vêm, como as garotas da escola, comer picolés à cervejaria e fotografam-se segurando os pauzinhos e sorrindo com a pequena e infinita felicidade das coisas simples. Enquanto vejo os painéis da exposição, recordo-me do tempo em que me sentava na sombra do murete de um dos palacetes Korrodi da vila e degustava, devagar, longos cornetos de tangerina. Talvez já o tenha contado algures, mas é provável que um dia destes me esqueça. Fica escrito — para isso serve o domínio tosco da ortografia (e para mais nada, se calhar).