"O que estão a fazer — titulava o jornal, citando um dos manifestantes do passado fim-de-semana — é pôr os lucros à frente das pessoas", as quais, acrescentava a parangona, "precisam de casas".
Espantam-me sempre um pouco que alguns indivíduos reparem subitamente de que modo, em relação a um bem concreto, as pessoas foram subalternizadas ao dinheiro. A mesma constatação podia abarcar a saúde e a educação, a alimentação, o transporte, o vestuário, a banca, a religião, as artes plásticas, a indústria musical, os livros, as redes sociais, o turismo ou os próprios jornais, todos, a seu modo, ao serviço do lucro de alguém.
Ocorreu-me, por causa disto, esta crónica e também uma história do Walden que já aqui referi, as quais, se me não equivoco, ilustram bastante bem a insensatez de procurar contestar a prevalência do lucro nas nossas sociedades. No ponto em que nos encontramos, a única solução eficaz teria de passar necessariamente pela desinvenção da civilização e da humanidade, programa que, tanto quanto posso avaliar, não concita grandes simpatias.